Face ao parecer elaborado pela Associação relativo à Prova de Exame Nacional de Biologia e Geologia código 702 2ª fase (in http://www.appbg.pt/index.php?menu=18&language=pt&tabela=geral#55), entendeu o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) do Ministério da Educação, emitir um esclarecimento, sobre o qual gostaríamos de nos pronunciar:
1.
Os dois primeiros itens analisados, abordando questões que consideramos
limítrofes aos programas, dificilmente são aprofundados no decorrer do
normal processo de ensino e aprendizagem. A nossa observação vai no
sentido de objetivar preferencialmente factos, conceitos, modelos e
teorias mais claramente balizados por estes, naturalmente incluindo
itens que envolvam raciocínios concetuais e procedimentais mais
elaborados.
2. Já no respeitante ao item 5 do grupo III, reiteramos e esclarecemos o seguinte:
a.
não ocorre "convergência entre limites litosféricos", mas sim limites
de natureza convergente entre diferentes blocos litosféricos (placas).
Um limite consiste num bordo/fronteira/descontinuidade que, apesar de se poder deslocar, não converge/diverge entre si;
b.
com certeza que o texto remete para uma história geológica. Porém, esta
congrega várias centenas de milhões de anos de evolução - o arquipélago
nipónico é materializado por litótipos que datam desde o Précâmbrico -
sendo que muitas destas rochas de natureza continental ácida, continuam a
aflorar nas ilhas;
c.
tratando-se de uma das zonas tectonicamente mais complexas do globo, é
extraordinariamente difícil construir modelos simples sem incorrer em
imprecisões científicas. A bibliografia geral (utilizada na formação não
graduada, como a citada pelo GAVE) sobre o assunto é, aliás,
frequentemente controversa e díspar (dada a referida complexidade). Já
na bibliografia mais especializada, a questão não tem esta abordagem
simplista. Atente-se a título de exemplo ao artigo (Taira, A., Tectonic
Evolution of the Japanese Island Arc System, Annu. Rev. Earth Planet. Sci. 2001. 29:109–34, ,
figuras 1, 6, 7, 9 e 11A, onde é possível constatar que o substrato
geológico do arco insular japonês, integra abundância de rochas de
natureza ácida na actualidade -
metamorfitos e granitóides - que revelam um substrato tipicamente
continental. Analise-se ainda a figura 7 que é bem representativa de uma
convergência entre blocos litosféricos
continentais e oceânicos. Claro que "As ilhas do Japão constituem um
arco insular" que, estendendo-se por quase 7000 ilhas ao longo de muitas
centenas de km, reúnem outros enquadramentos geotectónicos plausíveis.
d.
não conhecendo o contexto geotectónico japonês (não consta dos
programas), baseado no 1º parágrafo do texto que indicia natureza
continental e, por fim, no facto das ilhas do Japão constituírem um arco
insular (havendo arcos insulares representativos de convergência
oceano-continente - exemplo da região de Sumatra/Flores), um examinando
poderia optar por ambas as opções (C e D, V1), encontrando-se ambas em
acordo com os dados documentais apresentados e com o conhecimento
científico disponível.
Como tal, reiteramos que ambas as opções são válidas.
Enquanto
associação de professores, a nossa inquietação reside no fato de,
examinandos que investiram seriamente na sua preparação e estudo ao
longo de dois anos, poderem ser cabalmente prejudicados por
itens/exemplos que, por terem construção subjetiva e assentarem em
controvérsias científicas, não realizam a desejável e justa avaliação de
conhecimentos e competências, inscritos nos programas de Biologia e
Geologia e na concepção de Educação em Ciência que os sustenta.
APPBG